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Saiba mais sobre a Certificação IATF

Saiba mais sobre a Certificação IATF

20 de July de 2022

Você sabe como são fabricados todos os componentes do seu carro? Tem, ao menos, ideia de qual empresa os produziu?

Fique sabendo que cada elemento de seu veículo, desde os sistemas de frenagem e ignição, passando pelo conjunto de eixos e pela parte elétrica, até faróis, lanternas e pneus foi produzido por muitas empresas diferentes. Um carro de passeio é o conjunto do trabalho de diversas organizações, cada uma especializada em partes específicas, que depois são montadas para formar o veículo. Então, como assegurar os níveis de qualidade apresentados por cada uma delas? Claro que isso passa por um sistema de gestão eficaz.

Sabemos que a implementação e a certificação de um sistema de gestão da qualidade podem trazer muitos benefícios às organizações, os quais se estendem desde melhorias no seu próprio gerenciamento dos processos até o aumento da satisfação dos clientes, das vantagens competitivas e de seus diferenciais no mercado. E sabemos também que esses benefícios podem ser alcançados com a aplicação dos requisitos de uma norma internacional, como a ISO 9001:2015.

Mas o que nem todos sabem é que a ISO 9001, por vezes, não é um padrão específico o suficiente para atender a alguns setores em especial ou às demandas de um tipo de cliente. E isso ocorre porque o objetivo da ISO 9001 é ser um padrão genérico de requisitos, que pode ser aplicado a qualquer tipo de organização indiscriminadamente.

Nesses casos, existem normas que também tratam da gestão da qualidade, mas que vão além da ISO 9001. Na verdade, o que essas normas fazem é tomar os requisitos da norma geral como base e determinar critérios mais específicos e restritivos, que vão atender às necessidades próprias daquele setor em particular. Essas condições fazem com que algumas normas fiquem limitadas a um grupo de organizações, geralmente do mesmo segmento ou que atendem a clientes similares; tais normas são chamadas de normas setoriais.

Um exemplo de norma setorial é o PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat), publicada pelo Ministério do Desenvolvimento Regional. Ela é aplicada na construção civil e traz elementos próprios para esse tipo de organização. Seus requisitos são todos voltados a esse tema, fazendo com que não possa ser aplicada a nenhum outro tipo de empresa.

Outro exemplo bastante conhecido é a norma ISO 17025, aplicável a laboratórios de ensaios e calibração. Ela também traz requisitos específicos que somente farão sentido quando aplicados a esses tipos de processos, não sendo relevantes, portanto, para outras organizações.

E, dentre essas normas setoriais, temos a IATF 16949:2016 que, como as demais normas citadas, também é aplicável a um certo grupo de empresas, criando assim um “clube fechado”. Nesse caso, estamos falando das empresas do setor automotivo que têm, nas cláusulas da IATF 16949, exigências relevantes para seu setor.

A norma IATF 16949, porém, tem uma característica que a difere das outras, pois a organização IATF (International Automotive Task Force) é formada por membros que serão os maiores beneficiários da difusão e aplicação dos seus requisitos, ou seja, os clientes. Sim, a norma da IATF foi criada por essa task force (“força-tarefa”, em tradução livre), que nada mais é do que o conjunto de algumas das principais montadoras do planeta, como a Volkswagen, GM, Ford, BMW, Mercedes-Benz, Stellantis, Renault, entre outras, para ser aplicada em seus próprios fornecedores.

Dessa maneira, a norma IATF 16949 serve como uma “cola” que pretende unir toda a cadeia de produção automotiva a partir das montadoras que fazem parte da força tarefa, passando pelos fornecedores diretos (os chamados tier 1) e indiretos (tier 2, tier 3 etc.). A maneira como ela faz isso é exigindo que os fornecedores tier 1 comprem de fornecedores que já tenham certificados automotivos ou que sejam motivados por eles a obter essa certificação a fim de formar o segundo nível dessa cadeia, e assim sucessivamente.

A esses fornecedores, em geral, cabe assegurar todo o projeto e manufatura do produto ou sistema que fornecem. Para isso, devem ser seguidos os requisitos de algumas ferramentas da qualidade, as chamadas core tools, tanto para manter a excelência do projeto (com o uso de APQP, FMEA e PPAP) quanto da manufatura (por meio da aplicação de CEP e MSA).

O APQP (Planejamento Avançado da Qualidade do Produto), por exemplo, detalha o passo a passo de todas as etapas de projeto (seja de um novo produto ou de um novo processo) desde a concepção junto ao cliente até o início da produção.

A partir do momento em que se iniciam as etapas produtivas, entra em ação o PPAP (Processo de Aprovação de Peças de Produção), que tem por objetivo assegurar, num lote inicial, que o produto cumpra o que foi desenvolvido no projeto aprovado pelo cliente.

Já a FMEA (Análise de Modos de Falha e Efeitos Potenciais) é a etapa relacionada à análise de riscos, na qual as possíveis falhas, tanto de concepção de projeto quanto de seu processo de fabricação, são levantadas para que os controles sejam previstos e implementados, apresentando assim um caráter preventivo.

Quanto ao CEP (Controle Estatístico de Processo) e à MSA (Análise do Sistema de Medição), estas são ferramentas estatísticas muito importantes. O CEP visa determinar se, estatisticamente, um processo é capaz de produzir peças conformes, mesmo que não se realize a inspeção de 100% delas. A MSA, por sua vez, assegura que o sistema de medição da organização está apto a realizar a medição das peças para garantir dados confiáveis de conformidade dos produtos. Vale ressaltar que cada uma dessas ferramentas tem seu manual próprio, contendo requisitos para a sua aplicação.

Além desses requisitos, existe, no segmento automotivo, o costume de montadoras e sistemistas terem seus próprios requisitos. Então, se a sua organização fornece, por exemplo, para a Volkswagen, além dos requisitos da IATF e dos manuais de cada uma das core tools, ainda há os requisitos específicos dessa montadora a serem atendidos. Isso sem falar, é claro, dos requisitos legais referentes a alguns itens-chave dos veículos, como rodas, airbags, sistemas de freios etc., que são alvo de certificação especial de produtos. E saiba que os auditores IATF vão verificar todas essas condições.

Aliás, como não poderia deixar de ser, as condições para as auditorias e a certificação IATF também são determinadas por um conjunto de requisitos descritos nas “Regras para obtenção e manutenção do reconhecimento IATF”, que é um guia que explica a aplicação de tais condições para os organismos de certificação (como o Bureau Veritas Certification), bem como para os auditores e auditados. Além disso, essas regras determinarão, por exemplo, que as auditorias IATF devem ser conduzidas em todos os turnos com um terço do tempo total dedicado aos processos produtivos, assim como as condições para se tornar um auditor IATF, os requisitos para o planejamento das auditorias, os detalhes a respeito da rotatividade de auditores, os meios para assegurar a imparcialidade, os critérios para que uma empresa seja elegível à certificação IATF, dentre outras coisas.

Sim, de fato, a certificação IATF 16949 envolve muitos detalhes, requisitos específicos e restritivos, além de demandar controles bastante eficazes por parte das organizações que implementam um sistema de gestão baseado nessa norma. Mas, por outro lado, ela dá à organização um passaporte para participar do universo automotivo e contribuir na produção dos veículos que utilizamos diariamente, garantindo o seu lugar neste “clube fechado”, do qual nem todos podem participar. Afinal, quem disse que estar num grupo tão seleto seria fácil?

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Bureau Veritas

Mônica PerociniAuditora IATF 16949 do Bureau Veritas com especialização em Engenharia da Qualidade