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Imagem de uma fileira de turbinas eólicas em um campo

A HORA DO HIDROGÊNIO VERDE

22 de Março de 2023

O hidrogênio verde como uma alternativa de fonte de energia sustentável tem sido foco de debates sobre sustentabilidade e recebido cada vez mais investimentos para sua produção. Os próximos anos podem ser cruciais para que sua viabilidade seja consolidada e suas aplicações diversas, desde a geração de eletricidade até a transformação em combustíveis sintéticos, figure na produção de energia limpa. Fatores como a crise no fornecimento de energia na Europa, a emergência climática e a dificuldade em expandir o uso da eletricidade na frota de veículos atualmente movidos a combustíveis fósseis podem posicionar o hidrogênio verde como a melhor opção para a descarbonização da economia.

E não é à toa. Além de sua versatilidade, o hidrogênio verde não exige processos complexos em sua produção: na forma mais utilizada, as moléculas de hidrogênio presentes na água são separadas por uma corrente elétrica, no processo conhecido por eletrólise. As emissões de gases causadores do efeito estufa que um veículo movido a hidrogênio lança na atmosfera são muito menores do que a de veículos tradicionais. Ele pode ser utilizado como combustível para automóveis, navios e aeronaves, empregado na construção civil e na geração de energia. Além disso, o hidrogênio verde oferece a vantagem de ser armazenável, podendo ser utilizado posteriormente. 

O hidrogênio verde ainda oferece vantagens em relação a outros tipos de hidrogênio, que não são obtidos a partir de fontes renováveis. É o caso do hidrogênio cinza, obtido a partir da queima de combustíveis fósseis, em especial o gás natural; e o hidrogênio azul, oriundo do gás natural e do carvão mineral – que, apesar de passar por um processo de descarbonização, é visto como problemático em razão das tecnologias usadas, nem sempre positivas, do ponto de vista dos impactos no meio ambiente. 

Perspectivas favoráveis

Conforme a Agência Internacional de Energia (AIE), o aumento da capacidade de produção de eletrolisadores, que poderá chegar a 240 GW no final desta década, comprova que o hidrogênio verde será fundamental no caminho para se atingir o compromisso global de emissões zero em 2050. Dados da organização apontam que, ao se obter o hidrogênio por meio desse processo, é possível poupar 830 milhões de toneladas anuais de CO₂ – volume registrado ao se produzir o hidrogênio a partir de combustíveis fósseis. 

Além das tendências geopolíticas e climáticas que favorecem o uso do hidrogênio verde, há sinais de que os investimentos nessa área tendem a aumentar ao longo de 2023. Nos Estados Unidos, a lei para a redução da inflação, que resultou, no ano passado, em uma série de dispositivos para incentivar o uso de fontes limpas de energia, prevê subsídios para projetos de hidrogênio verde – o que pode tornar os custos mais competitivos em relação a outras formas de hidrogênio. O estudo “Hydrogen Insights Report”, lançado em setembro de 2022 pela consultoria McKinsey em conjunto com o Hydrogen Council, apontou a existência de 680 iniciativas de larga escala relacionadas à produção de hidrogênio verde, correspondentes a investimentos de US$ 240 bilhões. A China toma a dianteira na utilização de eletrolisadores, enquanto o Japão e a Coreia do Sul são líderes na produção de células de combustível, detendo 60% da capacidade de produção global, a qual é de 11 GW.  

Também no Brasil têm surgido iniciativas relacionadas ao tema. Do lado do poder público, há o Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2), que estabelece os principais eixos e diretrizes para o desenvolvimento do hidrogênio verde, e o programa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) voltado ao financiamento de projetos-piloto no país.  

Essa movimentação reflete a percepção de que o Brasil pode vir a se tornar um exportador de hidrogênio verde no futuro, ocupando uma posição estratégica no processo de transição para uma economia com baixo uso de carbono. O tema, inclusive, esteve na pauta da visita do chanceler alemão Olaf Scholz ao país no final de janeiro. E empresas de diversos setores têm se mobilizado nesse sentido. A fabricante de motores Tupy tem realizado projetos de conversão de motores de caminhões a diesel para hidrogênio, e a Siemens planeja colocar em operação as primeiras unidades de produção em larga escala de hidrogênio verde no Brasil até 2024. Em janeiro, a EDP inaugurou seu primeiro projeto-piloto em São Gonçalo do Amarante (CE), dotado de uma usina solar e de um módulo eletrolisador para produzir o combustível de forma limpa. 

Os exemplos mencionados aqui mostram como esse mercado oferece perspectivas bastante positivas de crescimento, com grande potencial de gerar negócios e garantir ao país uma posição de player global no âmbito dos esforços para a descarbonização da economia. 

Padrão de conformidade

Diante do cenário de utilização crescente de soluções baseadas no uso do hidrogênio verde, aspectos como produção, segurança, armazenagem e distribuição representam desafios aos participantes desse mercado. Diante desse cenário, a necessidade de estabelecer padrões de compliance que atestem a integridade desses processos é essencial.  

Considerando esse contexto, o Bureau Veritas – que já atua na verificação de cadeias de produção de energia a partir de fontes renováveis e alternativas – lançou, no início de 2023, uma certificação específica para o mercado de hidrogênio, por meio da qual é possível avaliar transparência ao processo de produção e, dessa forma, incentivar a atração de investimentos às empresas que atuem nesse segmento.  

A certificação do Bureau Veritas baseia-se em três pilares: segurança, devido aos riscos envolvidos na produção e no transporte do hidrogênio; análise de toda a cadeia produtiva, com foco em aspectos ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês); e atenção às emissões de gases causadores do efeito estufa, incluindo o uso de fontes de energia renovável para acionar o eletrolisador.  

O serviço inclui ainda a avaliação de novas unidades industriais e a conversão da produção de hidrogênio cinza e azul para verde. Assim, uma empresa que cumprir todos os requisitos é qualificada como “segura, sustentável e renovável”.

"Muitos dos projetos precisarão demonstrar transparência e credibilidade para obterem financiamentos. Simultaneamente, futuros compradores de hidrogênio querem se assegurar de que irão conseguir ver atendidas suas expectativas relacionadas a ESG, segurança e emissões. Com esta certificação, o Bureau Veritas irá disponibilizar uma ponte, trazendo transparência para todos os stakeholders", afirma o vice-presidente global de Energia e Renováveis do Bureau Veritas, Joerg Gmeinbauer.  

Um fator de diferenciação do processo de certificação do Bureau Veritas é o fato que ele permitirá a rastreabilidade do hidrogênio verde produzido, por meio de uma metodologia completa do ciclo de vida que abrange as emissões associadas ao processo produtivo, incluindo as emissões de suas matérias-primas e da energia necessária à produção. Além disso, a certificação envolve também a avaliação de conformidade com regulamentações locais à medida que elas forem surgindo ou sendo desenvolvidas.