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Imagem de dutos de distribuição de hidrogênio verde

Hidrogênio Verde: A energia do futuro

10 de Novembro de 2022

Produzido com redução da emissão de gases que causam o efeito estufa, o hidrogênio verde é uma importante contribuição para que o planeta possa cumprir metas de descarbonização até 2050

Em meio à realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022 (COP-27), que aconteceu de 6 a 18 de novembro em Sharm El Sheikh, no Egito, o mundo está em uma corrida para descarbonizar o planeta até a metade deste século. No caso do Brasil, foi apresentada na última conferência, a COP 26,  a meta de reduzir em 50% as emissões dos gases causadores do efeito estufa até 2030 e a neutralização das emissões de carbono até 2050. Para atingir esses objetivos, é necessário aumentar os investimentos em fontes de energias renováveis mais tradicionais, como aquelas obtidas por meio de usinas hidrelétricas, placas solares ou sistemas de captação eólica. Paralelamente a isso, há algum tempo se discute também o uso do chamado hidrogênio verde como uma solução viável para a descarbonização da economia.

A grande vantagem dessa opção é o fato de que o hidrogênio verde pode ser utilizado como um combustível universal, e sua produção é simples: por meio de um processo químico, a eletrólise, utiliza-se uma corrente elétrica para separar as moléculas de hidrogênio presentes na água. Com isso, essa fonte de energia é obtida com redução da emissão de dióxido de carbono na atmosfera. Dados da Agência Internacional de Energia (AIE) indicam que, ao se obter o hidrogênio por meio desse processo, é possível poupar 830 milhões de toneladas anuais de CO2 – volume registrado ao se produzir o hidrogênio a partir de combustíveis fósseis.

Discussões e iniciativas

As oportunidades proporcionadas pelo hidrogênio verde têm motivado diversas discussões de alto nível sobre a sua utilização. No final de novembro, por exemplo, será realizada em Santiago, no Chile, a primeira edição da conferência World Hydrogen Latin America, na qual especialistas do poder público e da iniciativa privada de diversos países da região – incluindo o Brasil – discutirão as oportunidades que essa fonte energética oferece à América Latina. Outra iniciativa similar na região é o Hydrogen Congress for Latin America & the Caribbean (H2LAC), cuja segunda edição foi realizada em Cartagena, na Colômbia, em outubro deste ano.

Em terras nacionais, recebemos no início de novembro, em São Paulo, o Hydrogen Dialogue Latam Brazil Edition, um encontro com o objetivo de discutir a transição da energia fóssil para energia renovável e que reuniu decisores empresariais, políticos e científicos ao longo de toda a cadeia de valor do setor para apresentar as novas tecnologias. Na ocasião, como Diretora de Certificações e Sustentabilidade do Bureau Veritas, abordei a competitividade do HV brasileiro na cadeia global e indiquei ações que potencializam esta competitividade, além de certificações que a comprovem.

Projetos ambiciosos vêm sendo elaborados ao redor do mundo para viabilizar a produção em escala do hidrogênio verde. Na Europa, a crise energética acarretada pela guerra na Ucrânia favorece a busca de alternativas – como o desenvolvimento de um “corredor de hidrogênio verde” entre a região da Andaluzia, na Espanha, e o porto de Roterdã, nos Países Baixos. Na América Latina, apenas o Chile tem hoje 25 projetos nessa área, destacando-se a iniciativa H2 Magallanes. O país pretende chegar a 25 GW de capacidade de eletrólise em desenvolvimento até 2030. Já a Colômbia busca promover o hidrogênio verde por meio de iniciativas junto à iniciativa privada e por meio de financiamentos e benefícios tributários.

No Brasil, uma importante iniciativa é o Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2), que estabelece os principais eixos e diretrizes para o desenvolvimento do hidrogênio verde. E o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou, em junho deste ano, um programa de financiamento voltado ao apoio de projetos de até R$ 300 milhões gerados com a utilização de energias renováveis, como forma de estimular a produção e o armazenamento (e, no futuro, exportação). Na ocasião, o superintendente da área de energia do banco, Daniel Barreto, argumentou que o hidrogênio verde abre oportunidades de agregação de valor na cadeia produtiva, como a produção de aço verde, amônia e metanol, além de integrar a cadeia de desenvolvimento de novas tecnologias. Do lado da iniciativa privada, destaca-se a construção da primeira fábrica de hidrogênio verde pela Unigel em Camaçari (BA), que deverá iniciar suas operações no final de 2023.

Outra iniciativa vem sendo levada adiante desde setembro de 2021 pelo Instituto do Petróleo e dos Recursos Naturais (IPR) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Trata-se de um estudo, ainda em curso, sobre a produção de hidrogênio verde e sua integração com tecnologias Power-to-X (ou seja, aqueles processos que buscam converter ou armazenar energia elétrica renovável e excedente na forma de vetores energéticos intermediários ou produtos de valor agregado, como combustíveis) em ambientes offshore – abrindo oportunidades para descarbonizar a indústria de óleo e gás.

Assim, o hidrogênio verde pode ser a chave para que o planeta possa atingir as metas de descarbonização fixadas em 2021, durante a COP-26; e para que as empresas consigam reduzir gradualmente sua pegada de carbono nos próximos anos. E, dessa forma, dar um freio à tendência, cada vez mais preocupante, de aumento de eventos climáticos extremos.

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Andressa Lisboa

Andressa LisboaDiretora de Certificações e Sustentabilidade do Bureau Veritas