SUSTENTABILIDADE E A JORNADA DOS RELATOS ESG
Há cerca de 20 anos, as organizações relatavam apenas o resultado financeiro, pois era a principal demanda do mercado. Ao longo dos anos, a sustentabilidade foi conquistando mais espaço na agenda das empresas, e de um único relatório com as informações financeiras, as organizações passaram a publicar dois, sendo esse segundo o que denominamos Relatório de Sustentabilidade.
Nessa jornada, a responsabilidade ambiental e social corporativa subiu para a vanguarda das preocupações das empresas, o investimento em responsabilidade corporativa aumentou e aspectos de governança corporativa ganharam maior visibilidade na agenda dos Conselhos e da alta administração em todo o mundo. Novas legislações e normas voluntárias foram e continuam sendo introduzidas para garantir que as empresas sejam responsabilizadas por seu impacto no meio ambiente e na sociedade em geral. E comunicar abertamente essa responsabilidade às partes interessadas gera confiança e transparência frente às partes interessadas.
O que a discussão mundial aponta atualmente são os riscos relevantes associados às questões ESG (sigla em inglês para ambiental, social e de governança) e em todos os tipos de negócio, como riscos climáticos, práticas antiéticas e questões sociais. Essa agenda é impulsionada pelo interesse crescente dos investidores e acionistas. Nesse sentido, as organizações, empresas e governos tendem cada vez mais a adotar relatórios que integrem os aspectos ESG às informações financeiras.
Um dos pontos centrais da jornada de sustentabilidade em uma organização é justamente mensurar e gerir indicadores, para que ela possa entender o cenário, e propor metas e ações que visem práticas ESG. Dessa maneira, a organização conseguirá identificar, contabilizar, prevenir e mitigar seus impactos negativos na economia, meio ambiente e na sociedade.
Dar mais transparência às informações sobre riscos, impactos e resultados financeiros relacionados às questões ambientais, sociais e de governança é um tema que está em alta e, com isso, diversos protocolos e diretrizes estão sendo criados e/ou aperfeiçoados.
Relatos ESG
O Relatório de Sustentabilidade é uma das ferramentas que uma empresa pode adotar para relatar o seu desempenho no âmbito social, ambiental, econômico e de governança, divulgando também suas práticas sustentáveis. É um instrumento de comunicação e gestão para divulgação dos indicadores da empresa de forma transparente e pode, sim, ser um diferencial de mercado.
O relatório tem por objetivo tornar acessível informações relevantes sobre um negócio a seus stakeholders, incluindo informações sobre as formas de gestão de seus impactos. O Relatório de Sustentabilidade em si é uma forma de aumentar a transparência da organização e pode ser elaborado de diferentes maneiras, sendo uma excelente oportunidade para as organizações apresentarem as ações ESG que foram desenvolvidas no período estabelecido para o reporte.
É importante abordar que, independentemente do momento em que a empresa esteja elaborando o relatório, seja logo no início de suas operações ou mesmo para empresas mais maduras, é indicado que uma equipe multidisciplinar atue na identificação de temas globais de meio ambiente, social e governança relacionados ao setor de atuação, com o mapeamento dos requisitos e tendências regulatórias aplicáveis, além da descrição dos riscos operacionais que afetam a sociedade e os negócios e quais ações a empresa está adotando para mitigar.
É recomendável também que a organização analise as recomendações de iniciativas reconhecidas, como o Pacto Global e Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, e posteriormente realize uma correlação desses objetivos com as operações, estratégia e cadeia de valor da organização. Caso se trate de empresas multinacionais e grandes grupos, cabe também reportar as particularidades do contexto de sustentabilidade de cada país e regiões envolvidas nas operações.
Em relação ao contexto ESG de cada setor empresarial, é indicado verificar os padrões de sustentabilidade específicos como o GRI (Global Reporting Initiative) e o SASB (Sustainability Accounting Standards Board), bem como realizar um benchmarking de sustentabilidade das principais empresas de cada setor. A coleta e análise destes indicadores e elaboração do Relatório pode ser realizado pela própria empresa, ou a própria empresa pode optar por contratar uma consultoria para auxiliá-la nesse processo.
Ainda, é importante que a empresa realize uma avaliação atualizada sobre os principais desafios, riscos e oportunidades relacionados ao mercado. As entrevistas com lideranças, gestores de diferentes áreas e stakeholders relevantes também podem auxiliar no diagnóstico ESG da empresa, identificando, por exemplo, as forças, fraquezas, oportunidades e desafios do setor, para elaborar ações no curto, médio e longo prazo.
Materialidade e stakeholders - a importância do engajamento dos stakeholders
Os stakeholders de uma organização são indivíduos ou grupos de indivíduos que se relacionam, têm interesse ou podem ser afetados a partir das ações desta empresa. Alguns exemplos de stakeholders são: colaboradores, fornecedores, comunidades, dentre outros. O engajamento deles na estratégia de sustentabilidade faz com que as ações de sustentabilidade sejam mais assertivas e inclusivas.
Os temas materiais são aqueles que representam os impactos mais relevantes de uma empresa, podendo considerar impactos em diferentes pilares dentro do ESG. E para o Relatório de Sustentabilidade, é importante que a empresa elabore a sua materialidade, que consiste na priorização dos tópicos materiais sob a perspectiva dos stakeholders internos e externos.
Posteriormente à identificação e priorização dos temas materiais de uma organização, é necessário definir os indicadores de sustentabilidade para gestão e acompanhamento das ações implementadas. No cálculo desses indicadores são utilizados os dados fornecidos pelos diferentes setores da empresa, gerando resultados a serem apresentados em diversas instâncias. Entretanto, como grande parte das empresas possui uma gama de indicadores e processos, pode ser útil mapear os sistemas de gestão utilizados e os indicadores que já são monitorados pela organização, assim, as métricas e gestão interna podem ser otimizadas.
Uma questão importante nesta etapa de definição de indicadores é realizar a checagem das diferentes áreas que podem contribuir para a mensuração das questões e temas que abordam a sustentabilidade, tratando indicadores quantitativos e qualitativos.
Padrões e métricas
As diretrizes e frameworks têm o objetivo de ajudar e guiar organizações em relato e divulgação ESG, sendo que esse exercício deverá acontecer de forma continuada ao longo dos anos.
Seguir uma diretriz ou framework é importante para dar credibilidade e tornar os resultados comparáveis entre organizações.
Os principais padrões e frameworks são:
GRI – Global Report Initiative: a GRI é uma organização independente com atuação internacional, fundada em 1997 e pioneira em relatos de sustentabilidade. Aborda o pilar ambiental, social e econômico. Foco nos impactos, gerenciamento e transparência das empresas. Processo de construção multi-stakeholders, voltado para todos os públicos de relacionamento da companhia e trazendo os assuntos fronteiriços para a mesa das empresas. As diretrizes da GRI são amplamente utilizadas para a elaboração de Relatórios de Sustentabilidade.
TCFD – Task Force on Climate Related Financial Disclosures. O TCFD desenvolveu uma estrutura para ajudar as empresas públicas e outras organizações a divulgar de forma mais eficaz os riscos e oportunidades relacionados ao clima por meio de seus processos de relatório existentes.
SASB - Sustainability Accounting Standards Board: os padrões SASB foram elaborados para conectar empresas e investidores em relação aos impactos financeiros da sustentabilidade. Fornecem tópicos detalhados de divulgação específicos para setores e métricas para informar o que deve ser incluído no relatório, dando clareza aos dados comparáveis e confiáveis buscados pelos investidores. São 77 indústrias distribuídas em 11 setores: Bens de Consumo; Processamento de Extrativos e Minerais; Finanças; Comida & Bebida; Cuidados de saúde; Infraestrutura; Recursos Renováveis e Energia Alternativa; Transformação de Recursos; Serviços; Tecnologia e Comunicações; e Transporte.
Relato Integrado – é uma forma de preparação e apresentação de relatórios corporativos, que requer que a organização pense de forma integrada. Está baseado em processos de controle e gestão.
Por fim, alguns desafios a serem superados pelas empresas se referem à adequação da empresa às exigências de mercado, cada vez mais rígidas em relação aos aspectos de sustentabilidade, questionamentos pelos investidores, a pandemia do novo coronavírus, que serviu como um catalisador para a discussão no Brasil e já suscita mudanças de comportamento e, em meio à nova realidade, as companhias listadas na bolsa necessitam apresentar parâmetros ESG em seus relatórios.
Quais são os benefícios de relatar?
Para as organizações, os principais benefícios são a identificação e gerenciamento dos principais riscos e oportunidades, melhor reputação entre as partes interessadas; melhor valor da marca, atratividade do cliente, competitividade e posição de mercado, atração e retenção de colaboradores.
Também, como demanda de clientes, muitas organizações buscam e exigem que seus fornecedores tenham políticas ESG desenvolvidas. A comunidade e consumidores em geral cobram que as empresas sejam mais sustentáveis, impactando nas vendas da organização.
Além disso, o alinhamento de propósito da empresa com o propósito dos colaboradores melhora a aquisição e retenção de talentos.
No âmbito de investimentos, alguns fundos estão dando preferência para empresas sustentáveis, pois estas tendem a ser mais longevas. E, de forma geral, como movimento global, muitas das principais empresas do mundo realizam ações sustentáveis e publicam relatórios de sustentabilidade.
BIBLIOGRAFIA
Os caminhos do relato ESG. Grupo Report. 17 de nov. de 2021. Disponível em <https://gruporeport.com.br/post/os-caminhos-do-relato-esg/ >. Acesso em: 13 de mar. de 2023.
Hazel: Acompanhando a jornada de organizações em direção à sustentabilidade. Hazel. Disponível em <https://d335luupugsy2.cloudfront.net/cms%2Ffiles%2F498518%2F1662061419hazel_Gestao_de_ESG_2022.pdf > . Acesso em: 13 de mar. de 2023.