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ETARISMO: E EU COM ISSO?

ETARISMO: E EU COM ISSO?

14 de Julho de 2022

Existem inúmeras pesquisas que mostram o quanto os estereótipos estão presentes em toda parte, inclusive dentro das organizações. Estereótipos são aquelas crenças generalistas que construímos ou herdamos e que, para simplificar nossa visão e interpretação do mundo, nos fazem categorizar e colocar as pessoas em caixas, ou seja, nos fazem acreditar que, por compartilharem de alguma ou algumas características idênticas, elas são todas iguais.

Isso acontece, entre outras coisas, com nosso gênero, classe social, raça, escolaridade, religião, faixa etária etc. e os resultados não são positivos - ao contrário, eles acabam gerando preconceitos e discriminação, muitos até inconscientemente, inclusive dentro das organizações.

A terceira idade é um bom exemplo de um grupo que está, de maneira geral, correlacionado a estereótipos negativos, o que acaba produzindo, também, comportamentos e atitudes negativas em relação a este grupo e afetando diretamente como são percebidos e as oportunidades que encontram no mercado de trabalho, por exemplo.

Crenças como: “o idoso é mais lento e produz menos”, “idoso não lida bem com tecnologia”, “idoso tem a saúde frágil”, “idoso não se preocupa com higiene pessoal”, “idoso é cabeça dura”, “idoso tem dificuldade em aprender coisas novas”, “idoso não é criativo”, “idoso é resistente a mudanças”, são apenas alguns exemplos de julgamentos estereotipados que carregamos sobre este grupo, e que acentuam a desvalorização, o preconceito e, consequentemente, os desafios que eles enfrentam no trabalho e na vida.

É muito difícil conseguirmos ser precisos quanto à idade que um profissional atinge para ser considerado velho para as organizações, ou seja, um indivíduo com idade acima do “adequado” para o trabalho produtivo, mas muitas pesquisas revelam que com 50+ já é um desafio para muitas pessoas conseguirem realocação em muitos mercados de trabalho, por exemplo.

Existe um termo conhecido como “Ageism” ou “Etarismo” que é utilizado para caracterizar a intolerância existente em diversos meios e que, neste caso, está relacionada com a idade dos indivíduos.

O termo foi criado, em 1969, pelo gerentologista Robert Butler e tinha conotação semelhante ao racismo e sexismo. Em 1999, Palmore ampliou o uso do termo para caracterizar o preconceito ou a discriminação contra ou a favor de um grupo etário.

Uma questão importante, e que precisa estar clara, é que o etarismo não trata exclusivamente da discriminação com pessoas com mais idade e nem apresenta apenas um viés negativo.

Porém, escolhemos aqui falar dessa perspectiva, pois encontramos inúmeros relatos que demonstram que os idosos acabam sendo o grupo mais afetado pelos estereótipos negativos relacionados à faixa etária e quanto o seu impacto acaba sendo devastador em todos os aspectos de suas vidas.

Agora você pode estar aí pensando, mas eu não tenho preconceito nenhum, isso é bobagem, se tantos idosos estão enfrentando algum tipo de dificuldade no mercado é porque não apresentam o perfil para a vaga ou algo do tipo, o problema são eles, eu não sou preconceituoso, a organização em que eu trabalho não tem preconceito.

E é aí que você se engana e pode cair numa das mais perigosas armadilhas existentes no combate ao preconceito, que é acreditar que ele não existe ou que você, por ser uma boa pessoa, não tem nenhum tipo de preconceito.

Eu sinto dizer, mas você tem preconceitos sim e eu também. Todos nós temos. O que precisamos fazer é buscar, de forma objetiva, identificar esses vieses que afetam nosso raciocínio e as decisões que tomamos e buscar minimizá-los com processos claros e objetivos, que nos ajudem a identificar onde podemos escorregar, mesmo sem perceber, e como podemos evitar que isso aconteça.

E quando falamos dos preconceitos relacionados a idade precisamos nos lembrar que, mais cedo ou mais tarde, a grande maioria de nós, se seguirmos o curso natural da vida, irá enfrentá-los também. O envelhecimento é parte natural da vida e precisamos começar a revisitar esses estereótipos que carregamos e que excluem os mais velhos do grupo produtivo da sociedade ou os colocam à margem, restando apenas os subempregos como opção.

No Brasil, essa é uma discussão urgente, principalmente por estarmos nos tornando um dos países com o maior número de idosos do mundo e a economia e a empregabilidade dessas pessoas passam a ser um dos grandes desafios com que temos que lidar nesse cenário.

Olhamos para os idosos da mesma maneira que olhávamos há décadas, quando as condições e expectativa de vida, trabalho, saúde, eram completamente diferentes. Precisamos atualizar nossas lentes e estabelecer relações diferentes com esse público.

E um dos caminhos mais promissores para lidarmos com isso é criarmos um programa de diversidade etária nas organizações.

Já vemos um movimento acontecendo e a agenda de diversidade e inclusão nas organizações está se ampliando cada vez mais, especialmente nos temas relacionados a gênero e raça, por serem os mais sensíveis.

Porém, precisamos incluir, também, ações relacionadas ao envelhecimento, para que possamos começar o processo de transformação da mentalidade das pessoas e organizações sobre esse tema.

Já sabemos que iremos viver mais e, por isso, inevitavelmente, também precisaremos trabalhar por mais tempo e a nossa idade cronológica não poderá ser um empecilho para a nossa manutenção no mercado de trabalho.

Precisamos, urgentemente, repensar todos os processos organizacionais, desde o recrutamento e seleção até a formação dos líderes que precisarão, cada vez mais, terem competência para lidar, agregar e apoiar a relação entre profissionais de diferentes gerações.

Podemos começar olhando para a faixa etária dos colaboradores da organização onde trabalhamos, como eles estão distribuídos nas diferentes áreas e posições hierárquicas. Podemos identificar qual a média de idade dos profissionais que temos contratado ou que têm conquistado ascensão dentro da organização e, também, qual faixa etária temos atraído nos nossos processos seletivos.

Mas, além disso, precisamos, também, identificar como o público com mais idade, que já está presente na organização, se sente: eles são ouvidos? Fazem parte e são considerados no processo decisório? Existe algum tipo de viés nas avaliações de desempenho desse público? E nas ações de capacitação e desenvolvimento?

Será através de movimentos intencionais e conscientes como esses, começando na conscientização e na identificação dos vieses existentes e chegando na revisão dos processos a partir desse olhar, que iremos combater o etarismo negativo e criar ambientes mais saudáveis, produtivos, rentáveis e inclusivos para todos.

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Bureau Veritas

Carolina de CarvalhoBureau Veritas Treinamentos